Versátil e dinâmico, Matteo Martari conversa com a Lifestyle Mag sobre carreira e hobbies
Fotografia: Maddalena Petrosino
Styling: Stefania Sciortino
Diretor de arte: Guilherme Rex
Grooming: Eleonora Mantovani @simonebellimakeup
Por Wallace Rezende
Um homem especialmente versátil, dinâmico, aventureiro, mas que ao click de “action” muda completamente, se transforma. A Lifestyle Mag teve o prazer de reunir um time especial na suíte presidencial do Hotel De La Ville em Roma, e fotografar com exclusividade o ator italiano nascido em Verona, capital da província de Veneto fundada por romanos no século I A.C. Tal heritage conectada à uma região tão ilustrativa históricamente, o ajudou a configurar o dna mesclado às artes cênicas que viria, por ironia do destino, virar profissão. São inúmeras minisséries, filmes com os mais variados personagens; Matteo Martari nos presentou com emoções em cenas do século 14 até e também nos transmite ao futuro em um piscar de olhos.
Com essa experiência vasta, não poderia ser diferente: Matteo Martari se mostra hoje um ator holístico, com habilidades únicas, o que o rendeu muitos papéis de protagonista de sucesso na Itália e no mundo.
No entanto, sua vida não poderia ser só trabalho, com profundo interesse em esportes, artes marciais, culinária e cultura retrô, ele também aprecia a dolce vita como um bom italiano.
Lifestyle Mag: Aos 38 anos, você acumula grande experiência no mundo do cinema. Com títulos como L’Alligatore, Cuori e Sotto Copettura. Uma obra em específico chamou nossa atenção, e tenho certeza de que você já foi exaustivamente questionado sobre ela: Os Medici (transmitido pelo Netflix). Assistindo a algumas cenas, ficamos simplesmente maravilhados com toda a ambientação e o vestuário. Como foi a a experiência no set em Florença?
Matteo Martari: Em primeiro lugar, obrigado pelas amáveis palavras. A experiência de Medici foi incrível para mim. Como muito bem salientou, cada detalhe, cada particularidade, tudo foi estudado para reviver aquela época: a escolha dos tecidos, os botões, o tipo de couro, as cortinas das janelas, até o tecido das bandeiras foi estudado no menor detalhe. Tudo foi preparado para que nós, atores, pudéssemos “respirar” aquela época que, feliz ou infelizmente, está distante de nós.
LM: O Renascentismo Italiano é uma das maiores referências e revoluções artísticas registradas na história da humanidade. Como foi viver um pouco na pele o fervor cultural e artístico de uma era tão marcante?
M: Hoje em dia estamos acostumados a nos considerar criadores do nosso próprio destino, “homo faber ipsius fortunae”. No entanto, é durante o Renascimento que esse tipo de pensamento, grandes mudanças sociais e culturais realmente se desenvolveram, obviamente, ainda há muito o que fazer em termos de melhoras no âmbito dos direitos humanos. Essa experiência foi uma espécie de Renascimento para mim também. Colocar-me no lugar de Francesco Pazzi deu-me a capacidade de medir (ainda que artificialmente) a imensidão da evolução artística daquele período, uma carga eletrostática que hoje me ajuda a apreciar o grande tesouro artístico que herdamos.
LM: A Itália é um país riquíssimo culturalmente, e com diversos dialetos. Como foi a experiência de se adaptar à linguagem da Toscana, tendo vindo da região de Verona? E por linguagem, falamos tanto da língua quanto dos trejeitos, expressões coloquiais e assim por diante. Como é esse mergulho em algo tão específico?
M: O grande obstáculo que tive que enfrentar enquanto estudava e interpretava meu personagem foi começar a pensar como as pessoas naquela época, sem julgamento, porque era assim que as coisas eram naquela época. A forma de pensar era muito diferente. Em relação ao dialeto, a mudança de sotaque é algo que pode ser resolvido tecnicamente, com muito trabalho. Felizmente filmamos em inglês, então não houve problema na minha opinião.
LM: Em Mesa para Quatro (Netflix) você participa de uma comédia romântica, onde há um verdadeiro desafio à ideia de almas gêmeas, conversando um pouco com algumas tendências do cinema recente, tal qual 500 days of Summer e La La Land. E isso nos trouxe uma pergunta: como você se sente diante do amor? Acredita em almas gêmeas? No romantismo clássico? Ou é mais adepto dessa corrente atual de amores diversos e possibilidades infindas?
M: Acredito no amor e no respeito ao amor, mas não acredito no conceito de uma alma gêmea eterna. Cada pessoa que amamos é nossa alma gêmea, é um pensamento baseado no fato de que somos seres em constante crescimento e mudança. Se crescemos e mudamos constantemente, uma noção tão definitiva e exclusiva quanto a alma gêmea não pode existir. Não importa se é por um curto ou longo período de tempo, quando lidamos com o amor estamos sempre falando de almas gêmeas. Obviamente, tem que ser amor! No entanto, existem diferentes tipos de relacionamentos em que o amor não está envolvido e os interesses/sentimentos em jogo são bastante diferentes.
LM: Qual foi o melhor conselho que sua mãe e seu pai lhe deram?
M: Seja gentil.
LM: Em sua carreira enquanto ator, você deu vida à diversos personagens, em diversos tempos históricos e com variadas profissões. Qual dessas experiências foi a mais divertida para você?
M: À sua maneira, todos foram particularmente divertidos. Isso se deve ao fato de todos os meus personagens estarem muito distantes de mim e por isso me permitirem experimentar novas formas de viver, novas abordagens de vida e perspectivas diferentes das minhas. A diversão está na pesquisa e na descoberta.
LM: Saindo um pouco do ramo profissional, que tal falarmos um pouco de suas peculiaridades? Bem, vindo da terra do Gelato, imagino que você tenha um sabor favorito, certo? O meu é Menta com Chocolate, e o seu?
M: Pistache e Avelã.
LM: Você mora em Roma. O que você mais ama na cidade? E quais são seus bares e restaurantes favoritos na região?
M: Viver em Roma é como viver em um museu, e a qualidade da luz sempre me surpreende! Prefiro não promover nenhum restaurante em particular. O que vou dizer é que prefiro tabernas (osterias).
LM: Agora, uma pergunta que pode até soar um pouco clichê, mas o que seria da vida sem um pouco de clichê, certo? Quais são seus principais hobbies no momento? O que você faz para se recarregar depois de muito tempo filmando um projeto? Como você se desconecta do personagem?
LM: Quando você não está filmando ou na estrada, como é sua rotina?
M: Treinar é a minha rotina. Eu faço jiu-jítsu brasileiro e alpinismo. Recentemente comecei a tocar piano, então essa é uma nova vertente de minha rotina.
LM: Você, além de ator, modelo, também já trabalhou em uma padaria, certo? Quais os seus pratos preferidos? O que você mais gosta de fazer, quais são as receitas e sobremesas que te levam de volta para casa?
M: Sou um verdadeiro guloso, como de tudo e gosto de quase tudo, mas se tiver que escolher o meu “best of” diria Tagliatelle al ragù bianco. Eu me divirto preparando os aperitivos, diferentes tipos de massas, carbonara, ragu, alho e óleo, e pimenta… a única sobremesa que posso fazer é o tiramisù, mas como todos eles. Sendo uma “formiga”, prefiro os cremes.
LM: Em uma entrevista passada, que você deu ao programa La Vita in Diretta, comentou que gosta de se afastar de quem é, a fim de mergulhar mais nas experiências que a atuação pode lhe oferecer. Que verbo definiria essa ideia de quem você é? Conhecer? Explorar? Estudar? Viver?
M: A pesquisa leva você a novas descobertas, não necessariamente sobre você, mas certamente o enriquece. Pesquisa seria a palavra.
LM: Talvez fazendo um paralelo negativo, mas numa vontade de entender melhor quem é Matteo Martari. Hoje, o que você diria ser a coisa que mais aflige a humanidade?
M: Eu diria injustiça e ignorância. Eles estão entre os fardos mais pesados da humanidade, juntamente com o desrespeito.
LM: Em tom otimista, e também procurando olhar para o lado positivo da mesma moeda: qual é o maior prazer do mundo para você?
M: É difícil para mim enquadrar um prazer específico, às vezes é tão inesperado que se torna imensurável. O prazer está sempre ali, ao virar da esquina, então vamos deixá-lo ao acaso.
LM: Em seu mundo, qual o seu lugar favorito?
M: Eu gosto de responder “onde quer que eu esteja”. Para mim, é mais algo interno que externo.
LM: Você, como pessoa próxima das artes, deve ter boas referências musicais. Conta pra gente: quais são seus cantores ou bandas favoritos?
M: Impossível citar um, teria que citar metade da discografia entre os anos 50 e 80. Eu realmente amo song-writing, seja italiana, americana ou inglesa, e rock! De qualquer forma, grandes clássicos são o que realmente me tocam.
LM: Temos visto uma grande mudança na mídia ultimamente. Você pensa em mergulhar nessas novas formas de expressão artística? Como Instagram Reels ou TikTok?
M: A beleza da arte é que ela é evolutiva, adaptativa e pessoal, por isso encontra formas expressivas em todos os lugares, basta tentar, arriscar e não ter medo de julgamento.
LM: O que move Matteo Martari? Qual o seu combustível?
M: Paixão, por dentro e por fora.
LM: Você se caracterizaria como uma pessoa de rotina ou espontaneidade?
M: Geralmente adoro a espontaneidade, tanto em mim quanto nos outros, mas muitas vezes me pego lidando com rotinas, então não sei. Espero que eu seja a mistura e o equilíbrio harmonioso entre os dois conceitos.
LM: Sua conexão com a natureza é notável no seu Feed do Instagram. Como você explicaria melhor sua ligação com a Mãe Natureza?
M: Não é uma questão de “ligação” entre mim e a mãe natureza… estamos todos absolutamente ligados a ela. Você tem pessoas que estão mais ou menos inclinadas a ouvir essa natureza. Para mim, isso é essencial para viver pacificamente em nossa sociedade atual. Eu preciso me retirar para a natureza, procuro sempre por oportunidades de maior afastamento e contato com a floresta em seu estado mais natural e selvagem.
LM: Estamos curiosos sobre seus próximos passos. Você pode nos dizer o que está no seu horizonte? Metas, objetivos, sonhos – o que você quer alcançar com os passos que está dando hoje?
M: Em relação ao trabalho, estou fazendo uma série para Rai 1 produzida pela Rai e Cross Production e em breve farei um filme da Sky chamado “Imperfetti Criminali”. E depois, não sei, veremos. Quanto ao complexo desenrolar da vida, podemos tentar planejar tudo, mas sempre temos que lidar com terceiros que nem sempre estão dispostos a aceitar ou mesmo entender nossos argumentos. Meu maior objetivo é continuar sendo quem eu sou. Para o futuro, desenhei uma espécie de caminho, mas talvez já haja outro que vou empreender. Sonhos nunca se tornam realidade se ditos, então vou mantê-los em segredo. Mas eu tenho muitos.
LM: Por fim, e encerrando nossa conversa, o que você diria para as pessoas que, como você fez com tanta maestria no passado, buscam encontrar seu lugar no mundo? Estão procurando se encaixar. Quais são suas palavras de inspiração para essas pessoas?
Uma conclusão romântica, otimista e que tem a cara de Matteo Martari, não é? Se você ainda não viu as obras desse artista, que tal tomar um tempinho agora para aproveitar algumas das séries que ele já participou de, ou mesmo alguns dos filmes que ele estrelou.
Você vai encontrar Mesa para Quatro disponível agora mesmo na Netflix. Temos certeza que você vai amar. Arrivederci!