“Precisa haver um espectro completo de cores e idades. Na moda atual, só vemos jovens. Por que não colocar uma mulher mais velha, com cabelo grisalho, que tem rugas?”
Nascida no México, Julie Sariñana era criança quando mudou-se para Los Angeles, acompanhada da família. O movimento foi todo costurado pelo pai, um alfaiate em Beverly Hills, que não deu ponto sem nó para sustentar a família. Do outro lado da linha, a mãe de Julie também fazia da moda a passarela das economias domésticas: dona de um brechó, a matriarca do clã garimpava novidades diariamente, que exibia como um ritual aos fiéis clientes, que a esperavam na porta do estabelecimento desde as quatro da manhã.
Essas experiências serviram de base para os primeiros passos de Julie no mundo da moda e levaram ao lançamento de “Sincerely, Jules”, há doze anos. Hoje, a bomba mexicana trabalha ao lado de seu marido fotógrafo, o francês Kevin Berruer, que clicou na capa desta edição. Sua influência é tanta que até marcas como Billabong e Bandier pegaram carona, lançando coleções assinadas por Julie. Agora, a influenciadora exerce seu viés empreendedor e lança sua nova aposta comercial: a marca de esmaltes Color Dept. Disponível em sete cores, os esmaltes são sem crueldade, 100% veganos e têm a missão de promover a diversidade e inclusão – prioridades de Julie . “Color Dept. é projetado para ser inclusivo, diverso, divertido e feliz, enquanto celebra cada uma de nossas diferenças e individualidades únicas”, disse ela.
Lifestyle Mag: Como foi o começo do Sincerely Jules, em 2009?
Julie Sariñana: Inicialmente, eram apenas tendências de moda e eu falando sobre tudo aquilo que me agradava. Bem aos poucos, comecei a pegar uma câmera e a fotografar. Às vezes pedia para amigos tirarem fotos minhas ou, em último caso, recorria ao meu pai. Naquela época eu era bem mais nova e não podia pagar por um monte de coisas, então, tinha que pegar roupas emprestadas com minhas irmãs ou amigas e fingir que eram todas minhas. Eu me trocava dentro do carro e saía dirigindo por aí, para encontrar um lugar bacana para fazer as fotos. E, como tudo isso era muito novo, fui aprendendo na prática
LM: Você já teve coleções com diversas marcas, incluindo a Billabong e, agora, a Bandier. Como funcionam essas colaborações?
JS: É muito orgânico. Eu fico por dentro de tudo, quero ter certeza de que a coleção tem a minha cara ou que seria algo que eu usaria. A mais recente foi com a Bandier, e queríamos muito que essa primeira coleção fosse inspiradora e edificante por causa do que estávamos passando com a pandemia. Eu sempre quero que as peças – e todo o meu trabalho – contem uma história. Então, quero que as pessoas possam, também, criar suas próprias histórias a partir dessas coleções. Que recebam as peças e vejam que sua qualidade é muito boa e que o preço também seja justo. Faço questão disso porque sei que peças vendidas por 300 ou 400 dólares podem ser muito caras para muitos de meus seguidores, o que não é legal. Por isso, estar atenta à qualidade e ao preço é algo muito importante.
LM: Para você, quais mudanças ainda precisam acontecer na indústria da moda?
JS: Precisa haver um espectro completo de cores e idades. Na moda atual, só vemos jovens. Por que não colocar uma mulher mais velha, com cabelo grisalho e que assuma suas rugas? Elas têm estilo também. Incluir pessoas de diferentes faixas etárias, e não focar apenas na turma dos vinte e poucos anos. Também acho positivo trazer diferentes tipos de corpos, abraçar as pessoas pelo que são, sua aparência, suas origens. Somos lindas, únicas, todas temos algo a oferecer.
Para a coleção que fiz com a Bandier, foi muito importante ter modelos curvilíneas, latinas, e incluir muitos tamanhos diferentes, não apenas ter do P ao G. Inclusive, percebemos que os tamanhos maiores esgotaram muito mais rápido que os menores. Ou seja, a demanda existe, mas as marcas não estão atendendo a ela, o que é muito triste. Estou tentando fazer minha parte para, realmente, mudar e ser uma voz nessa causa. Sou uma mulher de cor, imigrante, e sempre vou lutar por esse espaço. Espero que consigamos algum progresso.
LM: Como foi para você o trabalho durante a pandemia?
JS: Em 2020, durante o início da pandemia, eu me senti meio fútil. Estava postando fotos minhas enquanto tinha essa doença louca acontecendo e muitas pessoas morrendo. Estava exausta mentalmente e acabava me sentindo culpada postando só eu, eu, eu, o tempo todo. Então, tentei mudar um pouco a conversa, fazer algo para as pessoas verem um lado positivo no meio de tudo que estava acontecendo. Lembro que recebi um textão de uma menina, falando que meus posts a ajudavam a sonhar com coisas melhores e positivas para o futuro, e aquilo me tocou. Percebi que eu tinha que continuar postando
LM: O que mudou na sua vida durante esse tempo?
JS: Esta foi a primeira vez que eu e Kevin realmente desfrutamos e pudemos curtir um pouco nossa casa, que compramos há três anos. Pudemos cozinhar e fazer novas e divertidas receitas, o que foi muito bacana. Toda noite, ele tomava uma taça de vinho e eu uma Margarita, e nós jogávamos Rummikub ou assistíamos a séries e filmes na Netflix. Aproveitei muito esse meu tempo, porque nunca tive isso antes, já que estamos sempre viajando. Foi um bom momento para recomeçarmos e ficarmos desconectados, só desfrutando da companhia um do outro. Foi outro nível de intimidade, e isso foi muito legal.
LM: Gostaríamos de algumas dicas de viagem suas. Qual seria o melhor lugar para um jantar romântico em Los Angeles?
DAMA, no centro de LA. Quem for irá me agradecer depois. A comida e o serviço são super bons e parece que você está em Cuba quando está lá, porque o restaurante é muito bonito, a música é animada e a vibe geral é realmente viva.
LM: Melhor lugar para um brunch com as amigas?
JS: Ysabel, na Melrose com a Fairfax. Este fica na região de West Hollywood, e tem panquecas maravilhosas, que eu amo! As mimosas são muito boas e, normalmente, vou lá com as minhas amigas
LM: Melhor lugar para reunião de negócios?
O Proper Hotel, em Santa Mônica. É um local simplesmente deslumbrante. Também o Bottega Louie. Eu estive lá na semana passada para uma reunião com a Bandier. Eles adoraram, tinham acabado de chegar de Nova York e ficaram apaixonados.